Pesquisas começam a dar forma à tão sonhada medicina regenerativa

O impasse ético e religioso envolvendo pesquisas com células-tronco embrionárias foi contornado há aproximadamente nove anos, quando o médico Shinya Yamanaka mostrou ao mundo que quatro genes específicos podem fazer uma célula adulta extraída da pele retornar ao seu estado inicial. A simplicidade e a eficácia da descoberta renderam ao cientista japonês o Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2012.

Da descoberta aos dias de hoje, diversas pesquisas replicaram o método de produção das chamadas células-tronco de pluripotência induzida e começaram a dar forma à tão sonhada medicina regenerativa, que promete, no futuro, substituir órgãos debilitados por novos em folha fabricados em laboratório, ou fornecer neurônios extras para pacientes que sofrem com demência, como o mal de Alzheimer. Obviamente, essas e outras maravilhas terapêuticas exigem mais algumas décadas de pesquisa, porém pesquisas recentes têm mostrado que é, sim, possível usar as células-tronco induzidas para criar os mais diversos tecidos humanos.

Em um estudo publicado recentemente na revista Science, a equipe de Sheng Ding, químico na Universidade da Califórnia em San Francisco, nos Estados Unidos, transformou estruturas da pele humana em células-tronco e, depois, as reconfigurou como células musculares cardíacas. Estas, por sua vez, foram transplantadas no coração de ratos, e 97% delas começaram a pulsar, indicando um desenvolvimento total e saudável. Além disso, uma análise molecular confirmou que as células tinham propriedades cardíacas, e não epiteliais. Em um outro trabalho, o mesmo time criou células cerebrais de ratos, como neurônios oligodendrócitos e astrócitos, a partir da pele dos animais. Esse último trabalho foi publicado na revista Cell Stem Cell.

Pílula

Além dos resultados, o trabalho de Ding chama a atenção também por modificar o processo de obtenção das células-tronco. Enquanto a técnica de Yamanaka prevê a ativação de quatro genes específicos (veja infografia), o professor da Universidade da Califórnia reprograma as células adultas gradualmente, ao expô-las a um coquetel com nove compostos químicos. Depois, um outro composto é usado para criar os neurônios e células cardíacas. “Estivemos trabalhando nisso durante anos e identificamos pequenas moléculas específicas que podem substituir genes indutores na reprogramação celular”, diz ao Correio o cientista, que considera seu método mais seguro do que o da reprogramação genética.

Fonte: Correio Braziliense