Busca por pilulas abortivas dobrou no Brasil após surto de zika

Temendo as possíveis consequências do vírus zika em seus fetos, como a microcefalia, gestantes da América Latina estão procurando com mais frequência pílulas abortivas disponibilizadas pela internet por uma agência de assistência internacional sem fins lucrativos, revelou um novo estudo. De acordo com a pesquisa, a busca pelo medicamento se tornou duas vezes maior no Brasil.

Publicado nesta quarta-feira como uma carta no periódico científico "New England Journal of Medicine", o estudo é o primeiro a medir a reação das mulheres grávidas aos alertas do zika em nações onde o aborto é limitado ou proibido. Detectado pela primeira vez no Brasil no ano passado, o surto atual de zika foi ligado a mais de 1.600 casos de microcefalia, uma má-formação craniana.

No momento em que o vírus se dissemina pela América Latina, vários países, como El Salvador, vêm aconselhando as mulheres a evitar uma gravidez, mesmo que seu acesso a métodos contraceptivos ou ao aborto seja restrito. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também advertiu casais que moram em áreas com transmissão a cogitarem adiar gestações.

- Quando você emite esse tipo de conselho, mas não os relaciona com caminhos para cuidados seguros e legais, cria uma situação realmente difícil para as mulheres - disse a doutora Abigail Aiken, co-autora do estudo e especialista em saúde reprodutiva da Universidade do Texas, em Austin.

Abigail e seus colegas analisaram solicitações de aborto do grupo Women on Web, organização sem fins lucrativos que proporciona acesso aos medicamentos abortivos mifepristona e misoprostol, além de consultas online para mulheres de países onde o aborto legal é limitado. O grupo oferece as pílulas nas 10 primeiras semanas de gravidez para induzir abortos.


Os pesquisadores compararam os pedidos de aborto feitos depois de 17 de novembro de 2015, quando a região foi alertada sobre o risco em potencial de defeitos de nascença decorrentes do Zika, com pedidos já esperados deste mesmo grupo baseados em cinco anos de dados anteriores. Eles descobriram aumentos significativos em sete de oito países onde o zika está circulando.

Os pedidos de medicamentos abortivos feitos entre novembro de 2015 e março de 2016 dobraram no Brasil, onde o aborto é ilegal exceto em casos de estupro, quando a vida da mãe corre perigo ou a criança se encontra doente demais para sobreviver. Os pedidos aumentaram 35,6 por cento em El Salvador, 36,1 por cento na Costa Rica, 38,7 por cento na Colômbia, 75,7 por cento em Honduras, 93,3 por cento na Venezuela e 107,7 por cento no Equador.

A Jamaica, onde as mulheres foram aconselhadas a evitar a gravidez antes mesmo de a transmissão do Zika ter sido confirmada, foi o único país deste grupo onde não se testemunhou um aumento grande nas solicitações.

Fonte: Anvisa