Terapia com células-tronco melhora o tratamento da retina, diz pesquisa

Terapias com células-tronco são esperança de pacientes com doenças degenerativas relacionada à idade, por exemplo aquelas ligadas à perda de visão. Nesse caso, porém, os benefícios desse tipo de intervenção são ainda bastante limitados: a combinação da idade avançada com tecidos adoecidos gera um meio infértil para as células usadas, que não conseguem aderir ao sistema ocular. Na revista Science desta semana, cientistas do Instituto Buck de Pesquisa em Envelhecimento, nos Estados Unidos, mostram que a abordagem pode ter um futuro mais promissor apenas com ajuda de um mecanismo natural do organismo. Se calibrado de maneira correta, ele pode potencializar o tratamento.

Outras equipes de pesquisa já conseguiram transplantar, com sucesso, células-tronco da retina em ratos. Em humanos que têm doenças nessa membrana ocular, contudo, os benefícios são discretos: apenas 1% das células transplantadas sobrevive e consegue se integrar ao olho ao longo do tempo. “Queremos mudar essa estatística”, diz Deepak Lamba, pesquisador-sênior do novo estudo norte-americano. A ferramenta para alcançar as ambições, diz ele, chama-se fator neurotrófico mesencefálico derivado astrócitos (FNMDA).

“Identificamos esse sistema de modulação imunitária que ordena a interação entre células doentes da retina e células imunes para promover a reparação do tecido. Ele causa ativação alternativa das células imunológicas, reparação de tecidos, neuroproteção aumentada e maior sucesso de terapias com substituição de fotorreceptores”, acrescenta Lamba. Na pesquisa, o FNMDA foi injetado com fotorreceptores em ratos com cegueira congênita. Os animais tratados com a substância apresentaram melhor aderência das células-tronco ao tecido nativo e se recuperaram mais rápido.

Os cientistas notaram que o fator fez com que as células do sistema imune recrutadas para gerar a inflamação funcionassem, ao contrário do que foram programadas, como agentes anti-inflamatórios. Essas estruturas são, sobretudo, os macrófagos. Heinrich Jasper, coautor da pesquisa, acredita que, além de auxiliar terapias com células-tronco, o FNMDA pode evoluir para tratamentos preventivos nos estágios iniciais de doenças, de forma que os sintomas não evoluam.

No estudo,  o FNMDA foi empregado também para proteger os olhos de três ratos com degeneração de fotorreceptores — cones, que distinguem as cores; e bastonetes, que são sensíveis à luz e participam da visão noturna. “Focar na modulação do sistema imunitário para promover um reparo e uma resposta saudáveis do tecido prejudicado em vez de tratar os processos inflamatórios deletérios é uma nova fronteira na pesquisa do envelhecimento”, acredita Jasper.

Fonte: Correio Braziliense