No RS, Ministério da Saúde recolhe lote de 89 mil vacinas anti-HPV

A secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul recolheu preventivamente ontem um lote de 89 mil vacinas anti-HPV, depois que seis adolescentes — cinco em Porto Alegre e uma em Veranópolis, na Serra gaúcha — apresentaram reações atípicas depois da primeira dose. Uma delas teve convulsões.
Os cinco casos de Porto Alegre foram registrados na segunda-feira. O de Veranópolis, no último dia 20. Os nomes das adolescentes foram mantidos em sigilo, mas as reações apresentadas foram consideradas graves pelo Ministério da Saúde.

Em nota conjunta, a pasta e a secretaria estadual atestam que a vacina é segura e utilizada em 51 países desde 2006 "sem registros de eventos que pudessem pôr em dúvida sua segurança". O texto ressalta ainda que o Centro Estadual de Vigilância em Saúde foi notificado e já investiga os casos.
As cinco adolescentes de Porto Alegre têm 13 anos e sofreram de mal estar, dor de cabeça e náuseas.

Três precisaram de atendimento de emergência, mas já foram liberadas. A menina de Veranópolis, de 11 anos, teve uma crise convulsiva e segue sob acompanhamento neurológico.

Segundo a nota conjunta, a ocorrência de convulsões não foi confirmada por estudos internacionais, e isso levou ao recolhimento do lote de onde vieram todas as doses dadas às seis meninas.

Segundo a coordenadora do Programa de Vacinação do RS, Tani Ranieri, as adolescentes continuam sendo acompanhadas, e nenhuma tinha histórico de epilepsia, causa comum de convulsões.

— É necessário ter cuidado nesses casos porque o medicamento pode levar a culpa no lugar de problemas anteriores, que não eram conhecidos e foram desencadeados pelo produto — diz ela.

Além desses casos, foram registradas no estado outras 30 ocorrências de reações adversas leves, como tontura e desmaios. A aplicação da vacina tem como meta proteger adolescentes de 11 a 13 anos contra a infecção pelo HPV. Até ontem, 116 mil doses haviam sido aplicadas. A meta é vacinar 206 mil meninas.

A vacina, oferecida na rede privada por R$ 400, é fabricada pelo laboratório americano Merck Sharp & Dohme. Segundo a campanha, a segunda dose deverá ser aplicada em setembro, e um reforço final, daqui a cinco anos.

— Em campanhas massivas, o surgimento de reações adversas raras sempre aparece. O recomendável é que a segunda dose não seja aplicada — diz Juarez Cunha, do Comitê de Infectologia e Cuidados Primários da Sociedade Gaúcha Pediátrica.

O epidemiologista Eno Filho acha, por sua vez, que a campanha é "inadequada".

— Os casos de reações graves reforçam a sensação de que a vacina foi introduzida precoce e inadequadamente.

Até 2011, o ministério divulgava parecer não recomendando incluir anti-HPV no calendário vacinal. De lá para cá, não se produziram evidências científicas que justificassem a mudança.

A vacinação continua em todo o estado conforme calendário pré-definido.


Fonte: O Globo