Hospital do Andaraí ganha abraço simbólico contra o 'desmonte da unidade'

Médicos, enfermeiros e pacientes deram um abraço simbólico no Hospital Federal do Andaraí, na Zona Norte do Rio, na manhã desta terça-feira, em um ato contra o "desmonte da unidade". De acordo com o Conselho Regional de Medicina (Cremerj), até o fim do ano se encerram todos os contratos temporários, que contemplam 45% dos profissionais do hospital, e não há previsão de renovação dos contratos, muito menos da realização de concursos.

Além da perda de profissionais, a unidade sofre com a falta de manutenção. Há duas semanas, houve um pique de luz e os geradores não funcionaram, pondo pacientes em risco. Na última quarta-feira, um princípio de incêndio na rede elétrica fechou o setor de emergência. Oito pacientes, que estavam entubados, precisaram ser transferidos às pressas para outros setores.

Um aviso colado na recepção do Hospital do Andaraí explica que o atendimento na emergência permanecerá "suspenso temporariamente, até que sejam emitidos laudos técnicos do Corpo de Bombeiros e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ)". O cartaz orienta os passageiros a buscarem a UPA da Tijuca, o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, ou o Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro.

— Esse hospital sofre um processo de desmonte. Profissionais de saúde estão perdendo seus contratos temporários de 10, 11 anos, e os estatutários mais antigos estão se aposentando. Não há interesse da parte do Ministério da Saúde em renovar esses contratos, que representam 45% do quadro de profissionais. Até o fim do ano, terminam todos os contratos — alerta Nelson Nahon, presidente do Cremerj.

A emergência não é o único lugar que teve o atendimento suspenso. A enfermaria de cardiologia da unidade também foi fechada e o Centro de Queimados, que é tido como referência nacional, também está ameaçado.

— Se saírem mais dois médicos no próximo mês, o Centro de Queimados fecha as portas. É um dos poucos do Rio que presta esse tipo de atendimento, e atende o estado todo. As autoridades estão se lixando — desabafa Roberto Portes, chefe do Centro de Queimados do Hospital do Andaraí: — Os moradores do Andaraí, Borel, Formiga, Morro dos Macacos e várias outras comunidades estão desassistidos. Com essa emergência fechada, os outros hospitais, que já estão sobrecarregados, vão ficar caóticos. Isso é massacrante.

A promotora de vendas Monique Chaga, de 31 anos, foi a hospital na manhã desta terça-feira após sofrer uma queimadura no braço direito em um acidente doméstico:

— Só fui atendida porque para tratar de queimaduras ainda tem médico. Mas vi setores fechados. Lá dentro. Parece até abandonado.

De acordo com o Cremerj, outras unidades federais sofrem problemas semelhantes.

— O Instituto Nacional de Cardiologia recebeu uma ordem de redução de 30% do custeio. Isso se reflete numa redução nos procedimentos ambulatoriais e cirúrgicos. Bonsucesso tem uma emergência de lata e já perdeu 25 médicos — diz Nelson Nahon: — Estão estrangulando as unidades para fechar.

Em nota, o Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (DGH) informou que no primeiro trimestre deste ano o Hospital Federal do Andaraí ampliou em aproximadamente 20% as consultas ambulatoriais e, em 15%, as cirurgias, em relação ao mesmo período de 2016. Segundo o órgão, “atualmente, o quadro funcional do HFA conta com 599 médicos e, embora este ano 28 profissionais tenham tido seus contratos temporários encerrados, a área assistencial da unidade recebeu o reforço de 17 novas contratações”.

O ministério da Saúde também afirma que “não há salários de servidores permanentes ou temporários atrasados no HFA e em nenhuma unidade do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. O estoque de medicamentos, inclusive os oncológicos, de insumos e de materiais hospitalares está inteiramente abastecido. Também não ocorreu incêndio algum na unidade, nem transferência de pacientes para outros hospitais. Por precaução, o HFA aguarda laudo do Corpo de Bombeiros e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea/RJ) para atendimento integral na sua emergência, depois da verificação de defeito em tomadas do local”, diz trecho da nota.

O ministério atribuiu a grande procura pela unidade à localização. “A população da área da Grande Tijuca e da Baixada Fluminense tem procurado intensamente essa unidade hospitalar ao não encontrar serviços mais próximos de onde vive. No entanto, o hospital busca garantir a manutenção das atividades sem prejuízo ao atendimento da população”.

Sobre os outros hospitais federais no Rio, o órgão afirmou que já começou “o processo de especialização das unidades, com a consultoria do hospital Sírio-Libanês (SP), a fim de qualificar os serviços e tornar mais eficiente o atendimento. Este processo implica em uma redefinição dos perfis assistenciais das unidades, otimizando os serviços dentro de uma rede unificada. Não há redução de orçamento para o Instituto Nacional de Cardiologia (INC). O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) está em pleno funcionamento.”

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