Nota sobre a declaração do Ministro da Saúde

O CRF-RJ vem demonstrar sua insatisfação com as declarações do Ministro da Saúde, Ricardo Barros, que em visita a Ponta Grossa, no Paraná, na sexta-feira, dia 24 de junho, afirmou que prefere ter médicos cubanos do que farmacêuticos ou benzedeiras atuando em locais de difícil acesso no país.

"Se tiver algum ponto em que médicos brasileiros não queiram ir, teremos lá um médico cubano. É melhor ter um médico cubano do que um farmacêutico ou uma benzedeira", comparou o ministro.

O Conselho está de acordo com a nota divulgada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), reproduzida abaixo:

Pelo respeito à autoridade técnica do farmacêutico e à saúde da população brasileira

Na sexta-feira, 24 de junho, tão logo tomou ciência da deselegante declaração do ministro interino da Saúde, Ricardo Barros, proferida durante visita ao município de Ponta Grossa (PR), o Conselho Federal de Farmácia (CFF) cobrou assessoria do Ministério da Saúde, uma nota de retratação.

Esperava-se que, em 28 anos dedicados à vida pública, o senhor Ricardo Barros houvesse aprendido que, diante dos fatos, deve, no mínimo, um pedido de desculpas pela forma desrespeitosa com que, no desempenho de seu papel de representante de Estado, se referiu aos farmacêuticos.

Neste domingo, 26, o ministro até ensaiou uma retratação em seu perfil no Facebook, alegando que a sua fala foi divulgada de forma descontextualizada. Mas os farmacêuticos não ficaram satisfeitos. Exigem um pedido de desculpas formal. Somos uma categoria composta por mais de 200 mil profissionais da saúde que, diariamente, prestamos nossa contribuição à saúde da população brasileira, seja na rede pública ou nos serviços privados.

Não é a primeira vez que o ministro despeja sua oratória inconsequente e néscia diante da mídia. Recentemente, numa demonstração de total falta, inclusive, de habilidade política, ele disse que o tamanho do SUS deveria ser revisto. Foi obrigado a voltar a atrás e é o que deveria fazer novamente agora, caso tenha realmente interesse de oferecer ao povo brasileiro, a resposta que ele espera do Sistema Único de Saúde (SUS).

É preciso que o ministro compreenda que o desafio do sistema de saúde em garantir o acesso à assistência e aos serviços de saúde, direito constitucional de todos os brasileiros, não está sob a responsabilidade exclusiva de uma única categoria profissional. O cuidado multidisciplinar no qual cada profissão – incluindo a dos médicos – cumpre o seu papel, atuando de forma colaborativa, é defendido pelas mais importantes organizações de saúde em todo o mundo.

O modelo assistencial em vigor no país – fragmentado, hierarquizado, centrado no médico, orientado à doença aguda, e que promove pouca autonomia do paciente – não tem conseguido responder de forma resolutiva e custo-efetiva às necessidades de saúde da população.

Somente para citar alguns exemplos, cerca de 70% dos pacientes não conseguem controlar a hipertensão, o diabetes ou as dislipidemias, mesmo tendo diagnóstico e prescrição de médicos. Dados do Ministério da Saúde revelam que 82% dos pacientes que utilizam 5 ou mais medicamentos de uso contínuo o faziam de forma incorreta ou demonstram baixa adesão ao tratamento. Um em cada três pacientes abandonou algum tratamento, 54% omitiram doses, 33% usaram medicamentos em horários errados, 21% adicionaram doses não prescritas, 13% não iniciaram algum tratamento prescrito, entre outras constatações.

Ressalte-se que o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de automedicação sob influência de propaganda, que induz, muitas vezes, ao consumo irresponsável de medicamentos.

Diante desse cenário, é inegável a importância da atuação do farmacêutico para o SUS e é lamentável que o ministro não enxergue isso. Preferimos acreditar que sua visão esteja turva pela desinformação e a ignorância, do que por interesses outros. E nesse caso, seria nobre admitir o erro.

Que o ministro se retrate e compreenda que as pessoas precisam de MAIS SAÚDE e que nós, os farmacêuticos brasileiros temos e continuaremos a oferecer uma enorme contribuição ao país.